Veterinários
A fuga da Puru
A minha volta oficial ao trabalho estava programada para quatro semanas após a cirurgia, dia 4 de Maio. Porém no dia 03 eu fui escalada para alimentar os animais do Projeto na faculdade. Ao chegar no HVET eu chequei os prontuários, alimentei os animais, troquei água, mediquei... e dei por falta de uma cadela, a Puru. Ahhh, procurei essa cachorra em todo canto, pensei: e agora, que que eu falo pra dona da cachorra. Ontem ela estava aqui, de acordo com o prontuário, hoje não está mais. Como ela era menor que suas "colegas de cela", será que ela foi comida? Não não... ahh meu Deus, me ajuda.
Dentro de uma hora eu já tinha mobilizado minha IC (a Nancy, é a estudante de iniciação científica que me faz parte do meu projeto de mestrado) e o Givaldo, que é um funcionário do hospital, grande colaborador do projeto, e mora ao lado da universidade. Fui em seguida para o shopping com o Beto... mal comi.. não tenho mais prazer algum em passear na praça de alimentação do shopping. Além do que, não tirei Puru da cabeça. Pedi socorro pra outro vet me substituir na clínica no dia seguinte porque eu iria para a universidade procurar a Puru.
No dia seguinte cheguei no HVET arrasada, quando me falaram e a cadela estava solta, rodando pelo hospital. Bom, se espera que uma SRD pequena esteja assustada em um ambiente desconhecido. Chamei Nancy e Givaldo para tentarmos pegar a pobrezinha. Nos separamos, Nancy gritou: Alice, ela tá indo na sua direção!!!
Quando eu a vi, ela vinha correndo e eu me ajoelhei e disse: Vem, bebezinha, vamos cuidar de voc.......!!!
Nesse momento ela já se aproximava com mais de 700 dentes pra fora e um rosnado assustador... foi o tempo de eu pular para o lado e deixar aquele monstro seguir viagem.
A aproximação teria que ser diferente. Depois de cerca de duas horas ela estava acoada em uma saleta, presa no cambão, rosnava e mordia o cabo de aço do cambão com ódio nos olhos... quando eu consegui amarrar sua boca e conduzi-la para um canil de alta segurança, no qual eu não pretendia voltar tão cedo.
Na verdade, tudo aquilo era medo... eu geralmente falo que prefiro atender um cachorro bravo do que atender um cachorro com muito medo. Não se espera a mordida do cachorro com medo, o que acaba levando a acidentes por falta de cuidado.
Hoje a Puru está internada e mais cuidado tem sido dispensado no seu manejo no hospital. Ela já chegou com muito medo na primeira consulta e era esperado que fosse requerer um manejo mais específico. A Puru é um bom exeplo para ser usado entre os estagiários na orientação sobre comportamento, sobre manejo e as impressões que o animal acaba carregando do ambiente onde é realizado o exame físico. O tom de voz, a aproximação, tudo isso deve ser diferenciado e o indivíduo deve ser considerado.
Boa forma de recomeçar a trabalhar.
Recomendo o Fórum It's All About Dogs para melhor compreensão do comportamento de cães.
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