Os nomes citados no texto foram modificados para preservar a identidade do animal e do proprietário e para praticar a minha criatividade em criar nomes.
Eu atendi o Ziluinho, que é um mestiço de ET com a espécie canina, e se acha um poodle dos mais cheios de regalias. O Ziluinho tinha 2 kg, sendo que um deles de dentes afiados, e parecia um pinscher preto com fiapos de pêlos longos e arrepiados. A queixa da proprietária era que Ziluinho mordia o próprio tornozelo até se machucar. Foi levado a vários veterinários para tratar desse problema de pele.
Ziluinho era muito bravo, quando foi solicitado à proprietária, Dona Sulamita, que colocasse e focinheira no animal ela dizia:
Mas doutora, ele não quer!!
Ela ia com a focinhieira, ele tirava com a pata, então ela dizia:
Doutora, ele quer brincar com a focinheira!!
E colocava em uma patinha, depois na outra, depois na mesma, depois na outra... e eu esperando..
D. Sulamita, eu preciso que ele esteja de focinheira para poder examinar a pele, ou a senhora segura ele?
Eu não, doutora, ele me morde!!
Depois de 45 minutos conseguimos conter o Ziluinho, quando pude examinar a lesão. Não havia problema de pele, as lesões eram auto-infligidas, características de um problema comportamental. A proprietária chegava em casa e ele se estressava, começava a se morder, quando era contrariado ou quando alguém sentava na sua poltrona preferida. Várias situações levavam àquele comportamento.
Quando terminei o exame a dona Sulamita me disse:
Pronto doutora, posso ninar meu bebê agora?
E começou a balançar o cachorro e cantar "Meu cãozinho Ziluinho, o que eu sinto por você só com palavras, não sei dizeeeerrrrr".
Eu não sabia como dizer àquela senhora que o seu cão se mordia porque ele não era tratado como cão... ele era completamente dependente do amor e da presença da proprietária, pedia colo o tempo todo, chorava... aquele trocinho arrepiado havia perdido sua identidade e descontava no próprio tornozelo.
Difícil foi convencer D. Sulamita que o problema era simples, complicado era fazê-la mudar de atitude. Ela foi embora, deve ter levado Ziluinho para outro veterinário que resolvesse o "problema de pele" dele, pois ele não tinha motivos para ter estresse e era muito feliz.
Recomendoo blog Cãosciência.
PS: Essa cantoria me lembrou quando uma senhora levou um cão atropelado e pediu para cantar para ele durante o atendimento, porque ele ficava calmo. Eu permiti quando ela começou:
"Do jeito que Juninho me olha, vai dar namoro!! Do jeito que Juninho me ooooolha vai daaar namoro!!"
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